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Mostrando postagens de 2018

Ela é luz

Eu não sou sempre o mais hábil ao meu favor. Por vezes, mal sei o meu caminho. Não sei lidar comigo mesmo no silêncio e outrora isso me levou à extremos. Porém, ela eclipsa os meus conflitos quando afunda-me em seus braços afetuosos. Ela sabe ser luz. Ela sabe iluminar. Talvez, como eu, não com tanta habilidade para os seus próprios passos, mas, é isso que nos torna essenciais um para o outro. Ela sabe ser luz. Num momento, vela, noutro, fogueira. Ela sabe ser chama viva que não se apaga no vento, que se expressa em euforia e queima, incendeia, grita em exagero um amor que inunda demais para demonstrar-se em detalhes. Mas também sabe ser fogo miúdo que esquenta de perto, acompanha e ilumina no escuro os passos graduais, cansados e desolados. Como vela, ela acompanha na quietude e atua junto, com o calor tênue que permeia a pele. E como fogueira, não se apaga com o vento e ama de mais para se expressar sorr...

Os devidos créditos à gradualidade

Eu não morro de amor por você. Porque atribuir fatalidade a alguém que estimula minha vitalidade parece um tanto quanto paradoxal. Pois, esperança não se nasce sob a terra que é jogada nos nossos corpos quando padecemos, tampouco na frieza que a nossa pele emana. Entretanto, a vitalidade talvez tenha posse de maior parcela das gratificações que chegam a você em meu nome. E não porque a angústia acompanhava-me todas as noites junto a uma taça de vinho levemente quebrada em parte da base, mas simplesmente pelo modo que o mundo se apresentava a mim nos dias de crise e entregar-me era tão costumeiro quanto oportuno. Porque, talvez, a composição da minha deprimência esporádica não se preservara a minha ânsia contínua e crescente, e sim, ao meu particular modo de enxergá-la. E vitalidade é constância. É aprendizado e inspiração. Por isso tanta gratidão, pela aprendizagem. É o modo como se enxerga o mundo que descreve o prazer seu íntimo pela vida, porque a perspectiva sobressai-se às desven...

A Lei de Coulomb

Certamente, quando estudava a interação entre cargas elétricas, Charles Coulomb, no fim do século XVIII, não imaginava que, por ventura, um dia sua tese teria um apelo poético para descrever forças de atração tão disjuntas do campo da física. Nem mesmo eu, no auge da minha adolescência, enquanto cursava a última série do ensino médio, imaginaria dissertar de maneira tão tênue sobre algo que preenchia as minhas madrugadas pré-vestibular.  Mas fato é que Coulomb elucida bem o funcionamento das cargas elétricas dizendo que a intensidade da força elétrica é proporcional ao produto do módulo dessas cargas e inversamente proporcional à distância que as separa, sendo que cargas com sinais opostos se atraem, e, caso contrário, se repelem. Ou seja, quanto mais perto duas cargas estiverem e quanto mais opostas forem, mais se atraem. Se fôssemos cargas elétricas, conseguiríamos deduzir cientificamente a força que nos puxou um para perto do outro, e talvez, de fato, perdêssemos esse mistério...

Soneto de ventura, privilégio e prazer

Construo sob medida outra fiel esperança que nas tuas palavras vejo molde concreto, quando sob os teus atos vejo amor inquieto que arde no peito, em constante mudança. Porque, sobretudo, te amar é constância, cafuné que se extende e acaricia minh'alma, é calor que incendeia e, no fogo, me acalma, é se apaixonar pelo toque que finda minha ânsia. Eu te amo pelo infinito que, submerso, admiro, acolhido pelo aroma do amor que respiro ao encontrar a eternidade no teu olhar escuro. Eu te amo pelo que sou incapaz de descrever. No entanto, tenho a ventura, privilégio e prazer de sentir a cada dia esse amor calmo e puro.

A relevância do que sinto

A disparidade dos meus sentimentos caminha longe dos braços das minhas ações. Engulo em um ou outro momento, doses escarradas de vis emoções. E no limbo que conforto sentimentos hostis, guardo tudo o que me faz o centro de mim, desprezo a minha voz que grita por lágrimas, no instante que cedo, só, ao meu estopim. Eu ando procurando a relevância do que sinto sem que me sinta egoísta por ter raiva e cair. A propósito, eu sempre fui tudo o que tive, então, por que raios eu não posso me ouvir?

Eu amo o jeito que ela ama

Do momento que ela toca o meu rosto até quando deita sobre o meu corpo, amor é algo sentido em exagero. E amor, para mim, é exagero. Porque eu sinto, me declaro e confio exageradamente. É um exagero que explode quando a puxo para perto e dançamos em sincronia no nosso prazer particular. E, depois de tudo, quando o ar nos é rarefeito, o nosso corpo se entrelaça e sua cabeça repousa sobre o meu peito, eu a observo em silêncio e me pego perdidamente apaixonado pelo seu jeito de amar. Porque ela ama em euforia, como se guardasse dentro de si um mar tempestuoso de sentimentos para se derramar sobre minhas terras. Ela ama na pressão que os nossos corpos exercem um sobre o outro no nosso maior grau de exaltação; e na delicadeza dos seus dedos enrolando os fios do meu cabelo enquanto respira sob o meu respirar com o rosto inclinado sobre o meu pescoço. Eu sinto minh'alma preenchida de paz quando ela diz que me ama repetidamen...

Relacionamento é uma prisão

Há quem compare estar a dois a uma prisão, algo como querer voar e estar acorrentado, neste caso, a uma pessoa. E nesse pequeno pedaço de prosa eu queria pedir meus sinceros perdões aos grandes pássaros exploradores, que batem suas assas no alvorecer e viajam entre as estações trimestrais, mas há um leve equívoco no que se diz respeito a liberdade compartilhada. Talvez o famoso medo em questão não seja em si a ideia de relacionamento, mas sim, de compromisso. É difícil se comprometer com algo, realmente é, mas somos seres extremamente sociáveis que engatam funções individuais no andamento da nossa máquina social, a nossa ideia de vida em sociedade engloba vários compromissos para com o próximo. Até mesmo o nosso propósito, integralmente, já é um compromisso. Compromissos amadurecem a nossa noção de comportamento e responsabilidade. Somos comprometidos com os nossos objetivos futuros, com a nossa vida acadêmica e com nosso círculo social. Então a ideia de compromisso não nos é estranha ...

O tempo para

Eu não acredito que qualquer físico teórico ou poeta simbolista possa explicar com exatidão como o tempo para diante dos seus olhos escuros. Eu já não tento mais entender, mas nunca deixou de ser curioso. Há um mundo de desolação lá fora; os motoristas presos em seus carros buzinam em vão para o engarrafamento enquanto os ônibus ao redor espremem pessoas com seus próprios mundos de problemas pessoais e estresse. E não se engane, nós também cultivamos as nossas próprias desolações; porque é normal, infelizmente é comum colecionarmos preocupações como figuras adesivas ou selos. Mas tudo pára, o fogo cessa e por um momento, o mundo já não nos alcança mais. Assinamos um tratado de paz com as nossas almas e vivemos pelo prazer da nossa felicidade compartilhada. Estamos além, sempre fomos além, mas transcedemos. Fugimos da histeria maçante das n...

Oração a mim

Por favor, não olhe para nós Somos composições de fragmentos de astros Vagando por um universo escuro de rastros Criando deuses para não nos sentirmos sós Por favor, nos dê significado Pois nossa irrelevância estrepita na quietude Somos jovens desperdiçando a juventude Em futuros tão inalcançáveis quanto o passado Não sabemos não saber um porquê O mistério nos afoga em falácias rasas Deprime-nos a alma e nos dispõe a vender A liberdade de voar com as próprias asas Conspiramos contra o nosso próprio saber Condenados ao presídio das ideias pedantes Onde algemas e grades são crenças limitantes Porque não sabemos não saber um porquê

Algo novo, de novo

Eu tentei, sobretudo, não atender às minhas expectativas sobre o que uma noite poderia ser antes de tornar à luz da manhã. Mas a madrugada que nos mantinha os olhos abertos trazia mais que um novo dia, como o show das luzes e dos fogos explicitavam, ao colorir as desertas ruas da vizinhança. As pessoas abdicavam da nitidez de suas retinas e admiravam o céu por trás de visores com alguns milhares de píxeis, enquanto preenchiam suas redes sociais com a alegria e esperança que faltavam-lhes em seus dias mórbidos. Há algo que adjetivam como social que individualiza as pessoas em seus próprios mundos de bolso e tiram-lhes a voz, entregando-os o texto, assim como tiram-lhes a sensação, e os entregam a imagem. Nós estávamos além do domo sendo observados apenas por meia dúzia de pessoas e a luz singular do primeiro luar do ano. Para um bêbado em fim de madrugada, não é necessário mais d...

Gravidade

Gravidade. A lei da atração entre os corpos. Todo objeto atrai todos os objetos com uma força proporcional ao seu peso. A gravidade nos dá chão e, consequentemente, nos possibilita caminhar. Porém, Einstein não enxergava a gravidade como uma força decorrente simplesmente da densidade de um corpo, mas sim como uma consequência da deformação do espaço-tempo. Ele dizia que até roupas centrifugando e sendo jogadas para as paredes do tanque pela força centrífuga poderia ser um bom exemplo de "gravidade artificial". O espaço-tempo se deforma e nos mantém preso aqui, assim como o sol o deforma e mantém a Terra em sua órbita. Gravidade, aquilo que prende, que dá um sentido, uma órbita. És gravidade. E não, a tua atração não é proporcional ao teu peso — por motivos óbvios — mas ainda não é totalmente disjunta da tua densidade. A densida...