Os devidos créditos à gradualidade

Eu não morro de amor por você. Porque atribuir fatalidade a alguém que estimula minha vitalidade parece um tanto quanto paradoxal. Pois, esperança não se nasce sob a terra que é jogada nos nossos corpos quando padecemos, tampouco na frieza que a nossa pele emana. Entretanto, a vitalidade talvez tenha posse de maior parcela das gratificações que chegam a você em meu nome. E não porque a angústia acompanhava-me todas as noites junto a uma taça de vinho levemente quebrada em parte da base, mas simplesmente pelo modo que o mundo se apresentava a mim nos dias de crise e entregar-me era tão costumeiro quanto oportuno. Porque, talvez, a composição da minha deprimência esporádica não se preservara a minha ânsia contínua e crescente, e sim, ao meu particular modo de enxergá-la. E vitalidade é constância. É aprendizado e inspiração.

Por isso tanta gratidão, pela aprendizagem. É o modo como se enxerga o mundo que descreve o prazer seu íntimo pela vida, porque a perspectiva sobressai-se às desventuras e desencontros, é um caminho seguro que está sempre a seu alcance. E, como todo o modo de pensar, pode ser aprendido e estimulado.

Exatamente por isso que eu elucido tanto essa particularidade, pois, não é simplesmemte um fluxo que me preenche sempre que estou ao seu lado e constrói os meus sentimentos na dependência da tua influência, algo que se, por alguma adversidade, fores em definitivo torna-me à solitude. Não, o jeito mais belo de ver e lidar com qualquer eventualidade vai se perpetuar em mim. É algo que eu aprendi contigo e transcende as barreiras da nossa relação.

Por isso, exatamente por isso, toda a gratidão que eu tento dissertar de maneira nada breve. Pois, és inspiração como pessoa antes de atrair-me como mulher com todas as suas curvas e formas, és continuidade de sentimentos da mesma forma que és de sabedoria. Pois, vitalidade é constância, assim como aprendizado e inspiração. Não bate como um sorvete gelado descendo rápido pela garganta. Mas desce lentamente em pequenas e constantes doses, como chocolate quente em dias frios.

Devido à discordância gramatical entre algumas línguas, algumas expressões que usamos para descrever sentimentos não são tão bem traduzidas em outros idiomas — como, por exemplo, a palavra "saudade" em inglês. Portanto, quando, em inglês, tenta-se expressar a paixão, ou melhor, o ato de se apaixonar, geralmente usam a expressão "fall in love", que é algo como, em tradução livre, "cair no amor". Contudo, acho que "cair" não elucida bem o modo como me apaixonei por você, muito menos o modo como tudo o que sobreveio isso aconteceu. A queda é súbita de mais para uma construção tão progressiva. A crescente gradualidade que suscitou na nossa relação é totalmente desprezada quando se atribui ao que é impactante e permissivo.

Não foi o imediato. Definitivamente não. Tudo o que me fez aprender tanto com o teu jeito singular de lidar foi moldado pela gradatividade que tudo se construiu e se constrói desde então. E enquanto te agradeço pelas noites de sono que não perdi preso às incertezas, lembro de mais um ou dois motivos para prolongar esse escrito e estender os meus agradecimentos pelos frutos que outrora plantastes as sementes durante tua estadia. Espero que me faças morada definitiva. Porque eu vivo de amor por você.

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