A Lei de Coulomb

Certamente, quando estudava a interação entre cargas elétricas, Charles Coulomb, no fim do século XVIII, não imaginava que, por ventura, um dia sua tese teria um apelo poético para descrever forças de atração tão disjuntas do campo da física. Nem mesmo eu, no auge da minha adolescência, enquanto cursava a última série do ensino médio, imaginaria dissertar de maneira tão tênue sobre algo que preenchia as minhas madrugadas pré-vestibular. 

Mas fato é que Coulomb elucida bem o funcionamento das cargas elétricas dizendo que a intensidade da força elétrica é proporcional ao produto do módulo dessas cargas e inversamente proporcional à distância que as separa, sendo que cargas com sinais opostos se atraem, e, caso contrário, se repelem. Ou seja, quanto mais perto duas cargas estiverem e quanto mais opostas forem, mais se atraem. Se fôssemos cargas elétricas, conseguiríamos deduzir cientificamente a força que nos puxou um para perto do outro, e talvez, de fato, perdêssemos esse mistério que nos faz acreditar em predestinação e amor de toda uma vida. Pois, ao longo de toda a nossa amizade caminhamos nos extremos que circundam os nossos pensamentos e ideias, e as nossas divergências nunca nos repeliu, só nos proporcionou profundas viagens por nossas mentes em debates sempre longos. 

Num momento da nossa relação eu parei de me perguntar como duas pessoas opostas poderiam se encaixar tão bem num só tom. Meu pessimismo extremo fantasiado de realismo contrastava com o otimismo para um mundo que, aos teus olhos, é recheado de fragrâncias e sons que ainda nos encantam no meio do caos. A tua veemente fé que molda a nobreza do teu coração jamais atritou com o meu ceticismo de axiomas e teoremas. Cargas opostas se atraindo cada vez mais proporcionalmente à proximidade. A Lei de Coulomb. 

A Lei de Coulomb que deduz via corpos elétricos puntiformes o que entregamos em mãos divinas e nos abstemos de tentar entender. Havia força de atração, ainda que miúda, em nossa amizade, mesmo quando ela se limitava à texto, o suficiente para que nossa relação não se perdesse em meio às pessoas que entram e saem das nossas vidas todos os dias. Entretanto, a distância, que tem papel fundamental na intensidade dessa força, começou a desaparecer gradualmente. Quando trocamos a composição das nossas mensagens pelo som das nossas vozes, e, gradativamente, nos aproximamos a medida de que nossa timidez nos permitia, nenhuma outra força externa pôde interferir no equilíbrio que estávamos alcançando unindo-nos em sintonia. 

E, de forma cada vez mais acentuada, a intensidade da nossa união cresce a cada dia, porque motivos não faltam e nunca faltarão, nem que seja uma dissertação besta refletindo fatos científicos numa relação que transcende leis naturais. É um equilíbrio singular entre cargas opostas com intensidades semelhantes. 

Se fôssemos cargas elétricas, conseguiríamos deduzir cientificamente a força que nos puxou um para perto do outro, mas, o mistério que nos une não precisa de fórmulas, teorias ou porquês. Somos o que hoje precisamos para nós e, pelo caminho tempestuoso do futuro, seremos o que precisaremos, mesmo que seja apenas duas cargas elétricas de sinais opostos se atraindo em meio ao vácuo.

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