O tempo para

Eu não acredito que qualquer físico teórico ou poeta simbolista possa explicar com exatidão como o tempo para diante dos seus olhos escuros. Eu já não tento mais entender, mas nunca deixou de ser curioso. Há um mundo de desolação lá fora; os motoristas presos em seus carros buzinam em vão para o engarrafamento enquanto os ônibus ao redor espremem pessoas com seus próprios mundos de problemas pessoais e estresse. E não se engane, nós também cultivamos as nossas próprias desolações; porque é normal, infelizmente é comum colecionarmos preocupações como figuras adesivas ou selos. Mas tudo pára, o fogo cessa e por um momento, o mundo já não nos alcança mais. Assinamos um tratado de paz com as nossas almas e vivemos pelo prazer da nossa felicidade compartilhada. Estamos além, sempre fomos além, mas transcedemos. Fugimos da histeria maçante das nossas mentes desgastadas e nos guardamos numa bolha de consolo, onde nem nós mesmos, com nossas próprias bagagens de problemas e ansiedade, podemos nos alcançar. E tudo o que precisamos fazer é atar-nos num só laço. Certamente há um mundo que teremos que enfrentar lá fora em alguns instantes, mas o tempo parou, nada nos perturba e não precisamos nos preocupar com nada além do tempo que esse momento se esgotará. Podemos envolver-nos num canto de sofá e sorrir apenas por pertencer um ao outro por que, naquele instante, o nosso mundo caberá num abraço. E quando tudo voltar a correr, ainda poderemos sorrir para toda e qualquer esperança pela plena certeza que uma hora tempo irá parar novamente, só basta você chegar.

Comentários