Relacionamento é uma prisão

Há quem compare estar a dois a uma prisão, algo como querer voar e estar acorrentado, neste caso, a uma pessoa. E nesse pequeno pedaço de prosa eu queria pedir meus sinceros perdões aos grandes pássaros exploradores, que batem suas assas no alvorecer e viajam entre as estações trimestrais, mas há um leve equívoco no que se diz respeito a liberdade compartilhada. Talvez o famoso medo em questão não seja em si a ideia de relacionamento, mas sim, de compromisso. É difícil se comprometer com algo, realmente é, mas somos seres extremamente sociáveis que engatam funções individuais no andamento da nossa máquina social, a nossa ideia de vida em sociedade engloba vários compromissos para com o próximo. Até mesmo o nosso propósito, integralmente, já é um compromisso. Compromissos amadurecem a nossa noção de comportamento e responsabilidade. Somos comprometidos com os nossos objetivos futuros, com a nossa vida acadêmica e com nosso círculo social. Então a ideia de compromisso não nos é estranha de forma alguma. Mas por que ela se torna tão medonha quando é colocada no contexto de casal?
Eu, particularmente, nunca fui uma pessoa acostumada a sair à noite e compartilhar saliva com uma fila de pessoas no meio de música alta, fumaça de maconha e hálito da pior vodca disponível no cardápio. Eu sempre tive convicção de que a minha aversão aquilo não era simplesmente a necessidade de interação social um pouco assustadora para o meu eu extremamente tímido, apenas nunca senti que realmente pertencia a mim. Nunca fiz questão de beijar várias pessoas, sabe? Mas não se engane, não que não gostava de beijar, todo mundo gosta disso, é ótimo, só que nunca olhei com tanto prazer para as pessoas como se estivesse olhando para um menu de restaurante, onde ter mais opções é sempre melhor.
Portanto, a quantidade nunca me encheu os olhos e a exclusividade nunca causou-me qualquer tipo de medo. Melhor, como sempre fui uma pessoa carinhosa, estreitar-me o foco numa só pessoa para mim sempre foi sinônimo de aproximar o afeto em intensidades mais acentuadas de intimidade. Construir intimidade em si já é bom, assim como compartilhá-la. Conhecer e ser reconhecido por trás do palco principal e confiar a ponto de se despir – não apenas de roupas – é, ainda que perigoso, reconfortante. Mas, sinceramente, o perigo não compromete os ganhos. É essa a essência da confiança, mesmo quando é quebrada. O título desse escrito é popularizado principalmente por experiências desastrosas e a mania das pessoas de padronizarem relações pela forma como estas se apresentaram a elas em primeira instância. Não, um relacionamento não é ser impedido de sair com os amigos à noite ou confiar em alguém e ser traído. Por favor, não tente simplificar um relacionamento ao modo limitado como você enxerga isso externamente – ou até mesmo como ele se demonstrou desastroso em sua experiência particular.
Se eu tentasse definir um relacionamento talvez caísse na mesma falácia que me pus contra anteriormente – ao tentar simplificá-lo a linhas enumeradas. Mas talvez não seja tão presunçosa a tentativa de explicar como ele deveria ser. Porque algo tão pessoal deveria, trivialmente, ser saudável. E é saudável você aprender com alguém ao compartilhar lições e histórias de vida, assim como é poder admirar tanto uma pessoa a ponto de se inspirar nela para ser alguém melhor. Quando se tem ao lado alguém que te faça uma pessoa melhor em todos os sentidos, se prova, automaticamente, a real definição de relação saudável, e não uma prisão. Porque amor nunca pode ser relacionado a algo tão limitante, pois é totalmente oposto a isso, é um sentimento que deve quebrar barreiras e levar além do que se considera como limite, a conhecer a si mesmo ao sentir sempre algo novo. Amor é liberdade. E amar é se sentir livre. Porque melhor que a liberdade de sentir-se feliz, só o prazer de compartilhá-la, olhar nos olhos de alguém que se ama e sentir que compartilha da mesma felicidade que a sua, às vezes apenas por estar. 
Um relacionamento não é uma prisão, ele pode se mostrar como uma, ao não ser tão saudável quanto deveria. Porque não é como tentar voar e se sentir acorrentado, mas sim – me rendendo aos clichês –, compartilhar com alguém o mesmo grande céu azul e permear as nuvens, descansar a dois num ninho quente entre as folhagens ou escolher repousar sozinho por um momento olhando para o céu e sabendo que algum lugar debaixo da imensidão azul a guardará até o fim do dia, quando ela retornará.

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