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Eu me sinto tão só quanto uma dose de uísque, e nem companhia tira-me o isolamento. Há tanto espaço entre mim e qualquer um presente que o grito do meu corpo é mais baixo que o vento. A indisposição é a minha rotina pesada que me cansa tanto quanto o meu repouso e atenua o prazer do meu ócio e gozo de uma vida que me serve várias doses de nada. Eu me escrevo com dificuldade ao longo dos anos e não há álcool qualquer que soe atenuante. Mas eu até agradeço, não preciso empurrar para debaixo dos panos a minha frustração por ser refém dos meus planos.

Casa

Eu sinto falta de casa, entretanto, à essa altura, depois de tanto caminhado, eu já nem sei se "casa" ainda é isso que lembro vagamente. Eu mudei tanto desde então. Digo conscientemente que não sinto que sou uma única pessoa que simplesmente amadureceu todo esse tempo caminhado, isso tudo soa mais como um só que se transforma quando enfrenta o que enfrenta, assumindo as formas necessárias para não entregar-se de vez. Mas, apesar de tudo, sinto falta de casa, de ser quem eu era naquele momento. Não sei se aquele era o meu eu de verdade, sabe, é difícil ter convicção disso. Mas aquele parecia ser a mais lúcida de todas as formas que já assumi nestes últimos anos. E por isso que sinto falta de casa. Porque quanto mais realizado estou, menos realizado eu me sinto. E talvez tudo isso seja por que conquistei todo o pouco que conquistei longe de casa. Mas não é justo voltar para casa só quando a tempestade ameaça, para ter o prazer de ouvir o som da chuva do sofá, seco, quente, sent...

Mudança

As minhas entranhas se enrolam e parecem rasgar e remendar no ritmo constante da minha respiração, seguindo o fluxo do meu sangue bombardeado com grosseria pelos músculos do meu complexo cardíaco. Meu limite de visão é reduzido pela miopia do meu ego que não aceita que o mundo seja moldado d'outro ponto de vista que não do meu umbigo, porém não se engane, eu posso enxergar de longe as coisas que a minha mente constrói para brincar com a minha falta de confiança natural. A mudança, caro amigo, é física pelo custo que se paga, pois ainda que a dor de poesia não seja captada pelas terminações nervosas que se estendem sob a minha pele queimada, o efeito do desdém de mim por mim mesmo cerceia a plenitude da minha saúde em seu conjunto de entidades mentais e físicas. Sempre fui um defensor nato de que o castigo de terceiros não tem impulso suficiente para mudar o pensar, enquanto o castigo de si mesmo é desprovido de complacência ou limites de degradação. O castigo de si mesmo muda o que...

Sintonia

É a unicidade compartilhada em essência De corações transitáveis em plena harmonia Qualidade do que sobeja conexão e simetria Do afeto que se propaga na mesma frequência É o encontro de versos que rimam em escrita E se faz poesia de apenas uma sentença É sentir-se envolvido só pela presença E abstrair todo um mundo que, de fora, palpita Sintonia é aquilo que não se palpa ou vê Mas encaixa como corpos entrelaçados no sofá Tornando-se um na mesma tenuidade Sintonia é sensação que não se reduz a clichê É sincronia de dois corações num só respirar É sinônimo puro de reciprocidade

Ela é luz

Eu não sou sempre o mais hábil ao meu favor. Por vezes, mal sei o meu caminho. Não sei lidar comigo mesmo no silêncio e outrora isso me levou à extremos. Porém, ela eclipsa os meus conflitos quando afunda-me em seus braços afetuosos. Ela sabe ser luz. Ela sabe iluminar. Talvez, como eu, não com tanta habilidade para os seus próprios passos, mas, é isso que nos torna essenciais um para o outro. Ela sabe ser luz. Num momento, vela, noutro, fogueira. Ela sabe ser chama viva que não se apaga no vento, que se expressa em euforia e queima, incendeia, grita em exagero um amor que inunda demais para demonstrar-se em detalhes. Mas também sabe ser fogo miúdo que esquenta de perto, acompanha e ilumina no escuro os passos graduais, cansados e desolados. Como vela, ela acompanha na quietude e atua junto, com o calor tênue que permeia a pele. E como fogueira, não se apaga com o vento e ama de mais para se expressar sorr...

Os devidos créditos à gradualidade

Eu não morro de amor por você. Porque atribuir fatalidade a alguém que estimula minha vitalidade parece um tanto quanto paradoxal. Pois, esperança não se nasce sob a terra que é jogada nos nossos corpos quando padecemos, tampouco na frieza que a nossa pele emana. Entretanto, a vitalidade talvez tenha posse de maior parcela das gratificações que chegam a você em meu nome. E não porque a angústia acompanhava-me todas as noites junto a uma taça de vinho levemente quebrada em parte da base, mas simplesmente pelo modo que o mundo se apresentava a mim nos dias de crise e entregar-me era tão costumeiro quanto oportuno. Porque, talvez, a composição da minha deprimência esporádica não se preservara a minha ânsia contínua e crescente, e sim, ao meu particular modo de enxergá-la. E vitalidade é constância. É aprendizado e inspiração. Por isso tanta gratidão, pela aprendizagem. É o modo como se enxerga o mundo que descreve o prazer seu íntimo pela vida, porque a perspectiva sobressai-se às desven...

A Lei de Coulomb

Certamente, quando estudava a interação entre cargas elétricas, Charles Coulomb, no fim do século XVIII, não imaginava que, por ventura, um dia sua tese teria um apelo poético para descrever forças de atração tão disjuntas do campo da física. Nem mesmo eu, no auge da minha adolescência, enquanto cursava a última série do ensino médio, imaginaria dissertar de maneira tão tênue sobre algo que preenchia as minhas madrugadas pré-vestibular.  Mas fato é que Coulomb elucida bem o funcionamento das cargas elétricas dizendo que a intensidade da força elétrica é proporcional ao produto do módulo dessas cargas e inversamente proporcional à distância que as separa, sendo que cargas com sinais opostos se atraem, e, caso contrário, se repelem. Ou seja, quanto mais perto duas cargas estiverem e quanto mais opostas forem, mais se atraem. Se fôssemos cargas elétricas, conseguiríamos deduzir cientificamente a força que nos puxou um para perto do outro, e talvez, de fato, perdêssemos esse mistério...

Soneto de ventura, privilégio e prazer

Construo sob medida outra fiel esperança que nas tuas palavras vejo molde concreto, quando sob os teus atos vejo amor inquieto que arde no peito, em constante mudança. Porque, sobretudo, te amar é constância, cafuné que se extende e acaricia minh'alma, é calor que incendeia e, no fogo, me acalma, é se apaixonar pelo toque que finda minha ânsia. Eu te amo pelo infinito que, submerso, admiro, acolhido pelo aroma do amor que respiro ao encontrar a eternidade no teu olhar escuro. Eu te amo pelo que sou incapaz de descrever. No entanto, tenho a ventura, privilégio e prazer de sentir a cada dia esse amor calmo e puro.

A relevância do que sinto

A disparidade dos meus sentimentos caminha longe dos braços das minhas ações. Engulo em um ou outro momento, doses escarradas de vis emoções. E no limbo que conforto sentimentos hostis, guardo tudo o que me faz o centro de mim, desprezo a minha voz que grita por lágrimas, no instante que cedo, só, ao meu estopim. Eu ando procurando a relevância do que sinto sem que me sinta egoísta por ter raiva e cair. A propósito, eu sempre fui tudo o que tive, então, por que raios eu não posso me ouvir?

Eu amo o jeito que ela ama

Do momento que ela toca o meu rosto até quando deita sobre o meu corpo, amor é algo sentido em exagero. E amor, para mim, é exagero. Porque eu sinto, me declaro e confio exageradamente. É um exagero que explode quando a puxo para perto e dançamos em sincronia no nosso prazer particular. E, depois de tudo, quando o ar nos é rarefeito, o nosso corpo se entrelaça e sua cabeça repousa sobre o meu peito, eu a observo em silêncio e me pego perdidamente apaixonado pelo seu jeito de amar. Porque ela ama em euforia, como se guardasse dentro de si um mar tempestuoso de sentimentos para se derramar sobre minhas terras. Ela ama na pressão que os nossos corpos exercem um sobre o outro no nosso maior grau de exaltação; e na delicadeza dos seus dedos enrolando os fios do meu cabelo enquanto respira sob o meu respirar com o rosto inclinado sobre o meu pescoço. Eu sinto minh'alma preenchida de paz quando ela diz que me ama repetidamen...