Mudança

As minhas entranhas se enrolam e parecem rasgar e remendar no ritmo constante da minha respiração, seguindo o fluxo do meu sangue bombardeado com grosseria pelos músculos do meu complexo cardíaco. Meu limite de visão é reduzido pela miopia do meu ego que não aceita que o mundo seja moldado d'outro ponto de vista que não do meu umbigo, porém não se engane, eu posso enxergar de longe as coisas que a minha mente constrói para brincar com a minha falta de confiança natural. A mudança, caro amigo, é física pelo custo que se paga, pois ainda que a dor de poesia não seja captada pelas terminações nervosas que se estendem sob a minha pele queimada, o efeito do desdém de mim por mim mesmo cerceia a plenitude da minha saúde em seu conjunto de entidades mentais e físicas. Sempre fui um defensor nato de que o castigo de terceiros não tem impulso suficiente para mudar o pensar, enquanto o castigo de si mesmo é desprovido de complacência ou limites de degradação. O castigo de si mesmo muda o que se pensou e o que há de pensar, pois destrincha a alma e tortura sem piedade, quando perde-se o único elo de generosidade ao seu eu. A mudança nunca vem de fora, pois enquanto houver a possibilidade de ignorar, aceitar a própria razão e recorrer ao caminho mais fácil, se fará sem pensar meia dúzia de vezes. A mudança vem quando não se pode ignorar e a própria razão vira-se de encontro, fazendo o ar carecer junto à vitalidade, ganhando inimigos que habitam no mesmo lugar, respiram pelas mesmas narinas e dormem na mesma cama. E, caro amigo, você jamais desejaria ir à cama consigo mesmo.

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