Cotovia
Por meio da madrugada, dos frios dedos que escrevem esta carta e dos sons que a noite me traz, o desalento guarda para mim seu último voto de confiança. Eu estou perdido, tanto na vastidão do cosmo que nos envolve, quanto nos devaneios moldados pela minha mente para me atormentar. Eu não preciso desta lucidez, não basta os reais revés do meu cotidiano bagunçado, a noite sempre colhe aqueles velhos problemas que no fundo não passam de sementes que o vento esqueceu de levar. A cada minuto, a minha cabeça vira palco para a peça principal de todos os meus erros e eu me perco na plateia. Eu não preciso lembrar disso. Eu não preciso lembrar. Deixe-me sonhar, deixe-me fugir de mim apenas por uma noite. Deixe-me apreciar a sinuosidade do cair de uma folha carregada pelo vento até tocar o chão, enquanto ouço o doce som de uma cotovia. Eu quero sonhar, pois quando eu acordar, verei que tudo está uma bagunça. E todas essas incertezas que me cercam acabarão com toda a esperança que eu plantei dentro de mim. Deixe-me sonhar. Eu não preciso de mim. Não esta noite.
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