E Simplesmente Pensei...

- Como assim você já se apaixonou por outra? - Não, eu não me apaixonei por outra, só não quero me prender tanto à ela. É perceptível que não há mais chances. - Mas você não disse que era amor? - Acho que me precipitei, todo mundo já usou o verbo 'amar' errado. Ou não, eu posso realmente amá-la, sei lá, mas não aguento mais seguir na vigília do erro. - É confuso. Amor costuma ser assim. Mas ainda me impressiono por tu ter desistido tão fácil. - Cara, eu não disse que desisti, só não insisto mais. - Por que ainda duvidas que é amor? - Tipo, amor se cria na felicidade, não estritamente, mas compensadamente. Você ama porque você se sente bem com aquela pessoa, mesmo sendo só amigos. Os momentos bons que vocês passaram compensam as dores. Comigo não foi assim, eu me apaixonei mal a conhecendo, só a via uma vez na semana, ...

Olhando em volta, sempre desconfiado, sempre ao receio de ceder à esse amor. E vazio, mergulhado em desprezo e angústia, mesmo sufocado, ainda consegue respirar. Sempre sob custódia no seu medo de outra vez sonhar. Sempre sob vigia do sofrimento que ele pode se causar.

Mas eu continuo empurrando, me acomodando no incomodo, te vendo se afastar cada vez mais. E continuo sofrendo, por estar te perdendo, gradativamente, sem nunca te perder de vez. E mesmo paralisando e entorpecendo, e sempre esquecendo o que me fez apaixonar, não foi proposital te amar.

- Depois de tudo isso, depois desses quatro meses, ainda não acredita que eu a amava? - Não, deculpa. - Como não? Não sabes como doeu saber, naquela noite, que a presença dela não causaria mais o mesmo sentimento. Que eu nunca teria uma chance de sentir os lábios dela. - Nossa, deve ter sido tenso. - Foi, eu a amava. - Que triste. - Ainda não acreditas? - Cara, não sou eu quem devo dizer o que tu sentia por ela, só quem sentiu foi você. Eu só falo que não acredito que chegou a ser amor, por conclusões próprias. Não queria te dizer isso, mas você perguntou o que eu achava, não poderia mentir. - Suas conclusões não significam nada para mim. - Então só ignore minha opinião. - Não consigo, me diz um motivo relevante para me fazer acreditar que nunca foi amor. - Não vai querer que eu faça isso. - Óbvio que quero, prossiga. - Bem, primeiramente, ...

E desses campos de flores Que na perca de amores Se devastou ainda mais Não há se quer uma cor Que me lembre do amor Que um dia fui capaz Mas essas ilusões Que já foram esperanças Que só viraram lembranças E que nada mais a satisfaz Só sobrou dessas paixões Um sorriso nunca esquecido De deixar entorpecido Porém nunca perspicaz E foi quando a estupidez Forçou-o à ignorância E em cada arrogância Foi deixado para trás

- Essa é uma notícia incrível! Porque não estás feliz? - Eu estou animado. - Animado? Cara, isso devia ser motivo de grande felicidade para tu. - Deve ser por isso que tu sofre tanto. - Eu sofro? Tu que é só animado e eu que sofro? - Sim, tu é meio precipitado e se empolga demais, sendo atingido facilmente. Com o tempo a vida me ensinou a duvidar de tudo, a não tomar conclusões precipitadas, nem demonstrar sentimentos. Não estou feliz, estou me segurando. Porque a qualquer momento posso me decepcionar, isso pode dar errado, e se estiver feliz, vou cair de um lugar ainda mais alto, vai doer mais, do que se mantiver a lucidez. E mesmo se estivesse feliz, não iria demonstrar, pois se viesse a me frustrar depois, as pessoas perceberiam, e a última coisa que eu quero é que olhem para mim com pena, a última coisa que quero é demontrar fraqueza, é querer alcançar algo e vê-los olhando para mim c...

Agora tento me reconstruir, em cada parte que foi destruída, que foi morrendo com o tempo. E por mais que seja longe, nos meus restos ainda há esperança. Quando a última lágrima cair, quando me sufocar, quando já não conseguir mais respirar, já estarei pronto para deixar-me levar onde a tristeza não conseguirá mais me alcançar, onde nada conseguirá me alcançar. Mas ainda suporto, enquanto me aproximo ainda mais do limite, apenas esperando uma oportunidade para me sentir vivo novamente.

E quando te vi, me encontrei dividido. Como se uma metade de mim fosse embora com você. Até cheguei a tremer, foi meio anormal, quando tão perto do final, eu me vejo viver. E aquele instante, quando o chão sumiu, quando minhas mãos ainda estavam tremendo. Foi quando te vi, me fiz um vazio, foi quando te achei, que fui me perdendo.