Pretérito imperfeito

Ó, lua,
sinuosa lua,
que traz-me os trastes pecados da alma,
pesas-me nos ombros feridas de um trauma,
lágrimas lavam marcas que a pele encrua.

Já vi cachoeiras de lágrimas abundantes
cortando o verde que tece a vida.
Mergulhei em profundos olhos dormentes,
mares onde almas se encontram despidas

Mas jamais vi tão tortuosa dor
escorrendo de um olhar forte e vivo.
A voz que se escondeu fez-me decompor
em todos os estragos de um calor invasivo.

Não houve neblina que pudesse esconder
os meus passos errados, loquaz e tementes.
As vozes que se escondem sob o cobertor
calaram-se na culpa que prendia-me a mente

E não há tempestade que possa justificar,
nem cortejo fúnebre dos futuros perdidos.
Ao som turvo que entrava aos ouvidos
não havia palavras capazes de acalentar.

Havia mais pessoas apontando-me o dedo,
algumas das quais estavam dentro de mim.
Além de rimas pobres, pestana e nanquim,
não há mais viezes compondo este enredo.

As paredes estão cheias de erros e defeitos,
todos eles possuem a mesma caligrafia.
Versos cheios de pretéritos imperfeitos,
contos de esperança em imperfeita harmonia.

Ó, lua,
sinuosa lua,
o enxuga os olhos antes do anoitecer,
pois tais olhos já viram o bastante.
Por semanas mantiveram-se em abertura constante,
para não precisar ver uma criança sofrer.

Ó, lua,
sinuosa lua,
o enxuga os olhos antes do anoitecer.
E não importe-se com o que pesa nos meus,
eles mantê-se-ão abertos enquanto luto
contra a correnteza do rio que escorre dos seus.

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