A solidão de noites acompanhadas de livros e vinho tinto

Há quem diga que a solidão que me envolve nas noites frias a torna mórbida. E, principalmente, que toda essa retórica é uma pobre justificativa para a incapacidade de preencher as minhas noites com um pouco mais de alma. Ora, é certo que interações humanas são parte de nós, que aprendemos, crescemos e morremos por suas vias e conflitos de confiança, fidelidade e comprometimento. Mas ainda há "eu", como indivíduo, no meio de todo o "nós" que envolve-nos no dia-a-dia. Ainda que o companheirismo seja tão reconfortante nos momentos que as nossas almas clamam por afeto, eu ainda existo em toda minha individualidade de um ser completo e único. No momento da madrugada que eu abro uma garrafa de vinho tinto e aos poucos ele desce refrescando o meu paladar e esquentando minha garganta, tudo o que importa sou eu. É fato que estes momentos podem trazer consigo a tristura de um ser, pois, como eu estou em foco, é visível aos meus mais íntimos sentidos todas as minhas inseguranças, decepções, sonhos e conflitos. Quando eu sento na companhia do meu leve ar de embreaguês para ler um livro ou desenhar, quem sabe ouvir uma boa música acústica, é o meu momento de namorar-me e descobrir a minha intimidade que se perde no meio de toda a anarquia de um cotidiano conturbado, de olhar-me no espelho e redescobrir o que eu me torno a cada dia. A solidão nem sempre é mórbida, ela, por sua vez, é essencial. As relações interpessoais sempre hão de acariciar os meus sentidos porém, é de suma importância enxergar que, antes de um "nós", há sempre um "eu".

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