Monólogo

Caro amigo, a pessoa que disse que escrever te livra de frações do peso que carregas no peito é extremamente sábia. Escrever me deixa tão aliviado. Há dois anos transformo sentimentos confusos em prosas clichês. Pois há dois anos eu descobri algo que acabaria com minhas noites de sono e esporadicamente me faria acordar sorrindo. Como já deves saber, odeio rotular meus sentimentos, já que os mesmos são tão indefinidos, prefiro apenas sentí-los e escrevê-los, o leitor interpreta como desejar. 
Eu aprendi a amar. E o sobressalente deste sentimento é a disparidade entre ele e os meus demais sentimentos hostis. Olha para mim, um jovem introvertido perdido em suas histórias em quadrinhos e funções biquadráticas vendo sua felicidade se resumindo a breves encontros de abraços rápidos. 
O meu medo é me apaixonar outra vez. Falo isso quando já estou apaixonado mas tentando me convencer do contrário. A voz dela é tão doce que me prende mais que as músicas do último álbum do Arctic Monkeys. Sabe todo peso que carrego? Estes parecem tão leves quanto algodão quando a sinto comigo.
As pessoas aceitam o amor que acham merecer. Vi isso num filme e faz tanto sentido. Talvez ela pense que merece mais que o meu amor, talvez ela deseja encontrar isso no meio de álcool e drogas. Não muito diferente de mim, mas prefiro não arriscar. Um dia perderei mais do que uma pequena menina de óculos extravagantes com todo esse pessimismo.
Eu me sinto normal, nem feliz nem triste, talvez preferisse um desses extremos apenas para sair de toda essa monotonia. É irrelevante o quanto se busca a felicidade, se não a tem todo seu caminho se torna um tanto quanto inválido. Pois felicidade não é ser, e sim estar. É apenas uma combinação de momentos favoráveis que te dá esperança na vida.
Esperanças é algo perigoso, sabe? Eu juro que viveria sem nenhuma se conseguisse. Temos a ilusória ideia que uma hora as coisas começarão a dar certo. Mas nunca começa. Talvez em algum momento pareceu mudar algo mas logo voltou a vaga monotonia dos dias silenciosos.
Há lágrimas escorrendo pelo meu rosto e eu não sei exatamente o porquê. Há culpa em minhas costas. Há angústia em meu peito. Há perguntas. Há amor, e eu não sei exatamente o que fazer com ele, eu nunca soube. Eu nunca saberei. Eu estive feliz, eu tentei me manter assim. Mas felicidade trás esperanças. E esperanças me derrubam todas as vezes. Esperanças me derrubam. Todas as vezes. Todas as vezes.
Caro amigo, o jeito dela me faz bem, e talvez eu a ame, porque tudo o que eu quero todas as horas é estar com ela. Ou talvez ela seja apenas uma daquelas rápidas paixões para me fazer esquecer antigas decepções. Mas eu estou desistindo. Ela parece carregar os mesmos defeitos que fizeram a minha última eternidade se acabar prematuramente. Não vale a pena amá-la. Amor parece ser apenas um vício de pessoas fracas e impulsivas. E eu prefiro continuar vagando sozinho.

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