Os últimos suspiros de amor
Daí que um dia caí no conto que clamava minha necessidade de dividir esse amor empoeirado, profundo e amargo, em vulga demasia, sombrio e angustiante. Desde os dias que o guardei e que alí se aquietara, nunca se ouve uma lágrima demonstrada ou um espírito triste perceptível a um frívolo olhar qualquer a quem em outros olhares me focava. Ês que a infame, por insistência e por clemência, paixão me encontra, com toda sua ardência e partes desgostosas, com toda sua graça e extremamente atraente. Ainda pude escrever alguns versos de alegria enquanto desta pureza eu tragrava a simpatia, o externo e o belo me iludiram mais uma vez. Já devia saber eu que o amor machuca, que dói e que queima em todo o seu estranho prazer, mesmo que este seja tão bem correspondido. E ainda vivi eu, um amor tão doce e calmo, de dias claros e noites em claro, só para por mais alguns minutos poder sentir seu frescor. Mas se aqui destino, em frases inexperientemente rebuscadas, é que em algum verso desse poema ou em algum trecho desse caminho, o amor hei de doer mais do que deveria. Pois de uns tempos para cá, a felicidade esteve tão escassa em minhas terras que até temo os novos tempos de seca que o meu eu enfrentará. Se tenho eu tantos erros que mereça tal castigo, mesmo que a vida venha costurando meu destino, não sou o único dessas águas que me ponho a errar. Mas em minhas mãos eu tive o melhor amor do mundo, daqueles que me fazia acordar em péssimos dias com uma felicidade que transbordava pelo meu olhar. Veja-me agora, tudo se foi, o que restou é tão passageiro que mal dá para sentir. O amor ainda está aqui, eu o sinto. Mesmo que agora só faça doer, eu o sinto. Mesmo que não valha mais a pena sentir, eu o sinto. Pois eu preciso sentí-lo, eu ainda respiro e respirarei até os últimos segundos que me ainda houver ar, mesmo que este amor já não dê a mesma importância ao meu destino. Mesmo que eu precise sozinho ou seja eu o único a demonstrar. Mesmo que raramente, eu hei de viver a felicidade de quando este era abundante nos primeiros meses que ele estava em todo lugar. Talvez eu apenas tenho medo de admitir que me arrependo de ter amado outra vez por não conseguir deixar de amar.
Comentários
Postar um comentário