Enquanto ela subia as escadas

- E aí, cara, como vai? Tás bem? Olha, ela tava sentada ali na entrada, você viu?
- Sim, eu a vi, e não estou bem, se é isso que queres saber.
- Sabes o que acho? É meio estúpido essa tua atitude, a ama tanto e ignora-a completamente. Só queria te entender, não achas covarde o que faz toda vez?
- Sim, acho.
- Só isso que tens a falar? Só podes está de brincadeira. O menininho apaixonado quer bancar o frio de poucas palavras comigo? Eu que sempre te ouvi quando você precisava.
- Desculpa, cara, verdade, sempre me ouvistes, obrigado.
- Sim, e te agradeço por confiar em mim, não se lembras quando me dissesses quem era a tal garota?
- Sim, me lembro, falastes "É ela? O namorado dela está do meu lado!" enquanto ela subia as escadas. Esse dia foi um dos piores pra mim.
- É, e tás com a mesma cara daquele sábado. Sinceramente, só quero te ouvir.
- Sabe, mano, toda semana essa cena se repete e é torturante. Quando chego, paraliso, ninguém percebe, mas só vê-la provoca isso em mim. E é naquele momento, quando ela está lá, sentada, que perco meu chão. E naqueles minutos em que finjo que nada está acontecendo, são momentos no qual quero me aproximar, dar um "oi", abraçá-la e perguntar como ela está. Tão simples, não é? Mas isso me tiraria desse pesadelo no qual vivo mergulhado e, sei lá, seria como respirar, como encontrar a superfície e vê que a praia não está tão longe assim, que ainda tenho fôlego pra continuar nadando. Mas não, me junto ao silêncio, faço piadas, brinco, e escondo a bagunça que ela faz dentro de mim só com um olhar. Levanto quando já não tenho forças para nem reerguer meu coração abatido, batendo fracamente como se só esperasse alguém pisar e pará-lo de vez. Ao entrar por aquele corredor e vê-la sumir é como se eu visse a tal praia mas não tivesse fôlego para continuar e fosse caindo lentamente, vendo o raio de sol que refrata na água se apagar à medida que afundo, que me perco aos peixes, que perco meu ar.

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